29 de maio de 2009

O futebol está nos genes

Papai Costa e seu time em São Caetano do Sul (SP)
Conta o meu pai, o Senhor Moraes Costa, que nos tempos áureos de sua juventude fez estragos em zagas alheias com a bola no pé.

O grande fenômeno de Laguna – SC até São Caetano do Sul – SP, que deixou sua marca nas redes adversárias.

Se a paixão é passada através da herança genética, quem sabe venha daí o meu amor pelo futebol.

Ou a minha paixão por contar histórias.

Dia desses me peguei pensando no primeiro gol que marcou minha memória, aquele que despertaria em minha garganta a vontade de gritar “Feito! Gol!”.

Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos, tinha então 9 anos. Refrigerantes com temas comemorativos, álbum de figurinhas, a tabelinha de jogos colada no armário.

Romário, Bebeto, Dunga, Taffarel, Cafu e principalmente Branco.

Embora os comentários dos adultos não fizessem muito sentido naquela época, lembro que entendi que o Parreira não era lá um cara muito esperto por levar aquele jogador que chamavam de Branco e que pelo que diziam, precisava colocar o pé novamente na forma.

Quem diria que essezinho seria tão importante para a Seleção e para a minha própria história.

Brasil x Holanda, um aperto no peito desde o apito inicial deixava a todos inquietos, sofrendo calados a sua própria dor.

Deus parecia querer testar nossa fé. Até quando este povo continuaria a acreditar? Quantos percalços suportariam até pendurar as chuteiras?

O contestado Branco começa sua própria partida e com uma verdadeira fome persegue o gol, com tanta raça que alguns poderiam chamar de violência, mas já que o juiz nada fez, nada viu, quem somos nós para reclamar?

Até que a falta é dada, mas os ventos sopram ao nosso favor e Branco se posiciona para a cobrança.

Sei que nesse momento muitos fecharam os olhos, alguns rezaram, outros tantos depositaram sua fé e clamaram pela garra de todos os jogadores do passado.

Eu não sei o que fiz ao certo, talvez não tenha feito absolutamente nada, tão clara é esta lembrança que parece estar ali, perfeitamente intacta, como um grande choque, de olhos arregalados e boca aberta.

Uma bola, uma verdadeira bomba na direção certa. Romário ainda desvia, curva-se em movimento inacreditável, um verdadeiro balé de gênio. E é gol, Meu Deus, é gol! Feito! Feito! Gol do Brasil!
Após a Copa de 1994, de Romário e do grandessíssimo camarada Baggio, minha atenção focou-se no distante Sudeste.

Eu já sabia o quanto aquele jogo era capaz de fazer meu coração pular ou me deixar sem vontade até de assistir desenhos na televisão, mas ainda não era íntima dele.
O ano era 1995, Botafogo e sua camisa da 7up, a ginga malandra de Túlio Maravilha (A mão de Deus tupiniquim fica para outra vez) e uma muralha chamada Wágner.

Wágner fez que eu quisesse ser goleira, me fez imaginar usando aquele uniforme de mangas compridas, realizando vôos acrobáticos pelo ar.

Fato é que nunca passei dos 1,60m.

Mas voltando ao Botafogo, foi neste ano que conheci Garrincha, o craque máximo, aquele que não somente dominou a redondinha, mas lutou contra todas as probabilidades. É o craque do improvável.

Neste ano também aprendi muito com os santistas. Estes me mostraram o quanto o futebol pode estraçalhar a nossa alma, fazer picadinhos da nossa esperança, como nem tudo sempre é justo tal como desejamos e que o mundo de vez enquanto parece sair do seu eixo lógico. Aprendi também diversas formas de xingar um juiz.

No ano seguinte, reside um acontecimento que veio à tona recentemente.

Depois da alegria da torcida da estrela solitária e da frustração dos santistas, a Seleção veio novamente ao meu encontro. De verdade.

Quero dizer, não tão verdade assim, eles vieram mesmo é jogar um amistoso no Estádio da Ressacada, em Florianópolis.

Zagallo, o homem do 13, veio jogar aqui antes das Olimpíadas, tal como aconteceu na vitoriosa Copa de 94.Pé frio à parte, foi a minha primeira visita ao estádio.

Lembro que chorei, supliquei, que foi o meu pedido de presente de aniversário até completar 50 anos. O Senhor Costa ficou sensibilizado e me levou a tiracolo para ver Brasil 5x1 Dinamarca.

O que trouxe à tona este evento foi um desses cadastros de currículos em sites. Havia neste formulário a seguinte pergunta: “Qual outra experiência que você teve que considera importante citar?” ou algo do gênero, lá havia exemplos de viagens, cursos etc. Então o lampejo: “Jogo da Seleção na Ressacada, minha primeira vez em um estádio”. Da partida propriamente lembro muito pouco, mas todo o clima, todo aquele universo me envolveu para sempre, é parte de mim. Ali eu tive a certeza, de que era o que eu queria para mim, estar sempre perto do gramado, no palco do futebol.

Se não conseguimos explicar isto pela genética, quem sabe podemos tentar pela magia.

0 comentários:

Postar um comentário

Faça sua análise: